Ines Pasic é uma atriz e compositora integrante da Cia. Gaia Teatro e Cia. Teatro Hugo e Ines de origem bósnia mas, hoje, vive no Perú. Pasic participará do FIL com sua obra “Desde el azul” dia 20/03, sábado, às 11h. Também, estreará seu mais novo espetáculo gravado durante o isolamento social em 2020 “Poemario Visual de Gaia” dia 20/03, sábado, às 18h. A atriz conversou com a gente e falou um pouco mais sobre sua história e suas obras a serem exibidas no festival.
Quando você começou sua carreira em 1986 você era pianista, correto? O que provocou essa mudança de caminho (que também foi uma junção, já que o piano muitas vezes compõe suas performances) e como surgiu o interesse na pantomima? Percebemos, também, que a música é um grande elemento em suas performances, qual o principal papel dela na criação da aura do espetáculo? Como funciona a escolha/composição?
Nos últimos anos meu amor pela música e pelo piano voltou e se tornou muito presente na minha vida profissional.
Tenho sido uma viajante e este atrito com diferentes culturas se traduziu nas minhas criações musicais, porque descobri que nelas estão presentes os países que visitei e amei.
Minha última criação teatral, “Cabaret Gaia” é um espetáculo-concerto de piano, música corporal e fantoches corporais.
Infelizmente, por motivos financeiros, não temos um registro profissional.
A obra "Desde el azul” representa algumas das diversas vivências e saberes adquiridos ao longo de sua trajetória como artista - como é o processo criativo para transformar algo tão pessoal em um espetáculo que tem você como performista solo?
“Desde el azul” é a antologia de números que criei ao longo da minha vida.
Este processo criativo eu vivi e realizei como parte do Teatro Hugo e Ines e também como parte do Gaia Teatro.
Muita gente tem me perguntado porque essa dupla identidade e creio que é o que mais me expressa intimamente como ser humano e como a artista que sou.
Começando pelo signo astrológico: sou pisciana e me identifico bastante com esse perfil de personalidade, é um signo duplo.
Sou emigrante e tive que assumir diferentes identidades culturais e configurá-las dentro da minha pessoa e vida.
Gosto de trabalhar com outras pessoas, mas também gosto de trabalhar sozinha.
Sou marionetista e o diálogo interior, desdobramento traduzido na linguagem cênica com marionetes, é algo muito natural para mim.
Como sempre tive que autofinanciar meu trabalho tive liberdade de produzir o que realmente me importava e não fazer compromissos com ninguém.
Talvez essa seja uma das razões pelas quais cada obra que criei tenha sido o resultado de algum processo interno autêntico e não apenas uma simples organização de ideias e imagens cujos efeitos conheço por experiência.
Atuar sozinha foi um momento de muita importância para mim. Necessitava expressar um enfoque muito pessoal, feminino e sem concessões. Este espaço eu criei no Gaia Teatro. Tive o privilégio de ter como maestro e posteriormente trabalhar com Hugo Suarez e justamente essa experiência me ajudou a fortalecer minhas asas.
Como tem sido adaptar suas obras para o mundo digital? Muitas vezes suas criações demonstram um estilo mais intimista, você acha que o modo online prejudica isso ou abre portas para trabalhar mais a conexão com o público?
O Poemario Visual de Gaia é um híbrido, uma espécie de criação que busca unir a linguagem teatral à vídeo-linguagem. Me deu a possibilidade de combinar minhas criações musicais com a arte da marionete.
Tive que estudar, experimentar e compreender as diferenças dessas linguagens, essencialmente em termos de espaço e ritmo.
Essa compreensão me levou a visualizar as ideias que desejo expressar de uma maneira diferente.
Estou em processo de descoberta dessa nova linguagem e com meu colega, cinegrafista e editor Paul Inga, navegamos em águas pouco conhecidas.
É divertido!
Acredito que essa forma de trabalhar traz ideias diferentes, inovadoras e é algo novo para mim. Suspeito que a maioria dos artistas teatrais tenham entendido que filmar uma peça, sem implicar na especificidade da vídeo linguagem, não nos dá resultados satisfatórios.
Acho que vamos ter muitos trabalhos muito interessantes no futuro, estou otimista (apesar de tudo), porque a criatividade é algo inerente ao ser humano.
Você contou que tenta explorar a sensibilidade feminina em algumas dessas performances, indo de encontro à cultura centrada em um visão puramente masculina. Com relação à pantomima e ao seu caráter mais lúdico: é difícil fazer críticas de cunho político-social dentro dessa forma de expressão artística? Como funciona essa dualidade?
Falar das críticas sociais e políticas através da arte não é algo presente de forma direta nos meus trabalhos.
Em vez disso exploro através da experiência íntima a sensualidade que me une ao humano presente em todos nós.
No meu dia-a-dia tenho ideias políticas e sensibilidade social e tento ser coerente com isso, mas não abraço ideologias. Prefiro o pensamento inclusivo que abrange o melhor das frações e sou defensora do bom senso.
Acredito que a polarização seja uma espécie de lobotomia espiritual e intelectual.
Não é a minha!
A metáfora como expressão poética e filosófica é o que tento alcançar nas minhas criações. Acredito que isso atua de uma forma muito mais profunda sobre o espírito humano que declarações que pretendem dar as respostas. Prefiro perguntas, sugestões, dúvidas e pesquisas.
Creio que é mais honesto porque sou muito consciente do pouco que sei e quanto me falta aprender.
Perguntas elaboradas por: Maria Nobre
Entrevistadora: Ana Clara Thomaz
Tradução: Ana Clara Thomaz e Maria Nobre
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