Por Luana Reis
Após um caloroso debate no primeiro final de semana do 18º FIL (Festival Internacional de Intercâmbio e Linguagens), os espectadores pediram por uma segunda rodada entre os especialistas, portanto continuando a mesa “Fake News para Novos Públicos” nesta segunda-feira (29/03).
Gilberto Scofield, Diretor de Negócios da Agência Lupa, e Cristina Rego Monteiro da Luz, Professora da Escola de Comunicação da UFRJ e Doutora em Comunicação e Cultura, se reuniram em mais um Ping Pong para responder à pergunta: do que precisamos para formar pessoas resistentes às Fake news?
Gilberto Scofield e Cristina Rego Monteiro da Luz
Não tem como abordar desinformação sem mencionar educação midiática, ainda mais quando estamos falando de crianças e adolescentes, o foco deste bate-papo. Essa faixa etária é uma grande vítima das fake news nas redes sociais e estamos em um momento em que ainda não temos uma abordagem preparatória para lidar com isso nas escolas.
Apesar do crescimento da iniciativa LupaEducação, que trabalha desenvolvendo programas de treinamento para verificação de dados e informações, Gilberto acredita que, para efetivamente formarmos uma sociedade com senso crítico para notícias falsas, é necessário que o combate à desinformação se torne uma preocupação na área de educação. Ele defende uma política centralizada e verticalizada partindo do Ministério da Educação. Para Scofield, não basta a atuação de iniciativas independentes em parceria com escolas – até porque esses “soluços”, como ele descreve, também encontram uma série de problemas.
Ele comenta: "A formação do professor está meio perdida nessa história toda, porque não tem uma base constante de aprendizado e treinamento para lidar sequer com as questões tradicionais do ensino brasileiro, e muito menos com as novas fronteiras de pensamento." Por conta disso, muitas vezes os professores acreditam que uma proposta de educação midiática deva vir exclusivamente de um corpo escolar e pedagógico, e acabam se mostrando fechados para trabalhar a questão com outros profissionais – quando essa disciplina, na verdade, passa tanto pela educação quanto pela comunicação. “Ou a gente trabalha junto, ou não vai dar certo.”
E para além da falta de infraestrutura em escolas públicas no Brasil, Scofield apontou para a resistência de responsáveis legais pelos alunos que têm a oportunidade de fazer parte de programas de educação midiática na escola, por acreditarem que ela seria uma espécie de doutrinamento. Ele conta também que há redes de ensino que, caso estejam aliadas a certa corrente político-ideológica, não fazem questão de receber iniciativas de combate à desinformação.
Enquanto isso, na Finlândia, que foi considerada a sociedade mais resistente a notícias falsas, conforme um dado do Open Society Institute, mencionado pelo Gilberto, a educação midiática é parte da estrutura da educação básica desde 2016, com a preocupação de estimular o senso crítico desde cedo nos cidadãos. Antes de analisar textos e manchetes, são trabalhadas ideias básicas sobre o que é plausível na realidade da criança, para que ela mesma desenvolva um pensamento analítico. Como por exemplo: e se uma pessoa diz que está bebendo vinho no sofá e deixa a taça cair no carpete, mas ela não quebra? É possível. Agora, e se uma pessoa conta que, quando estava bebendo vinho na varanda de sua casa, no último andar de um prédio, a taça caiu na rua e não quebrou? Vamos com calma! Essa afirmação é duvidosa.
O especialista também contou que o estudo é feito de forma interdisciplinar, no dia a dia das crianças. “Não tem uma aula por semana de combate à desinformação. O combate à desinformação é feito em cada uma das disciplinas, relativo às ‘maluquices’ que circundam uma aula de ciências, por exemplo, sobre uma tese da Terra plana.”
Mas com base em sua experiência, Scofield mencionou que também tem visto uma preocupação crescente com desinformação entre os profissionais de educação no Brasil. “Que esse caldeirão comece a cozinhar debaixo para cima!”
Para o especialista, além da necessidade de uma iniciativa centralizada, o próximo passo é viabilizar a colaboração; Interáreas. Interdisciplinares. Interinstitucionais. Por outro lado, ele reconhece: “Isso não é fácil. Especialmente nesse momento em que vivemos uma situação de desinformação caótica em várias áreas. Tem gente morrendo por desinformação. É uma guerra complicada.”
Você pode conferir a gravação completa da entrevista no canal do FIL no YouTube, clicando aqui.
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